Nos últimos dias, Portugal tem passado por uma onda de calor. Em diversos pontos do país as temperaturas ultrapassaram os 45ºC. Na cidade do Porto, os termómetros registaram 37ºC de temperatura máxima. De acordo com os especialistas em clima, este é um fenómeno que se repetirá nos próximos anos, de forma mais frequente e mais intensa. Não existem soluções mágicas para o contrariar. Mas existem opções para minorar os efeitos destas ondas de calor. Uma delas é simples e reconhecida juridicamente (lei 59/2021, art.º 19.º, alínea c): plantar árvores.
Segundo a arquiteta paisagista Ana Luísa Soares, diretora do Jardim Botânico da Ajuda, nas ruas mais arborizadas de Lisboa é possível notar uma redução de 5 graus Celsius em relação a outras artérias mais expostas aos raios solares. Esta é uma das razões que a levou a concluir que os benefícios da plantação de árvores nas cidades superam os seus custos 4.5 vezes.
Nas cidades do Porto e de Vila Nova de Gaia, são poucas as ruas que se podem considerar verdadeiramente arborizadas, oferecendo sombra, frescura e redução de calor aos seus cidadãos e visitantes. Qualquer transeunte, trabalhador, estudante, turista que caminhe pelas suas ruas nota facilmente o défice de árvores, o excesso de carros, a omnipresença do ruído, a ausência do chilrear dos pássaros, a falta de sombra e frescura, o predomínio do ar quente e poluído. E isto não é de agora.
Ilustram bem esta situação artérias emblemáticas destes concelhos. No Porto, a avenida dos Aliados, que, excetuando umas pequenas filas de árvores na praça General Humberto Delgado e na praça da Liberdade, está constantemente exposta ao Sol. Em Vila Nova de Gaia, a avenida da República e os arruamentos em torno da Câmara Municipal, salvo alguns curtos trechos ligeiramente arborizados, padecem do mesmo problema.
As cidades não podem continuar a ser desenhadas apenas para quem se desloca de automóvel. Estimular as deslocações a pé e de bicicleta é essencial para reduzir as emissões carbónicas, causadoras da crise climática. Mas para isso precisamos de criar sombras frescas através de mais arvoredo.
Por estas razões, e à semelhança do manifesto pelas árvores em todas as ruas de Lisboa, o MEL – Movimento Espaços Livres, que agrega diferentes movimentos de cidadãos do Porto e de Vila Nova de Gaia que advogam um maior investimento em áreas verdes, apela a estas Câmaras Municipais que procedam à plantação sistemática de árvores em todas as ruas. Todas é mesmo todas. Seja no centro das cidades, seja nas freguesias e bairros excêntricos. Todas as ruas devem ter árvores plantadas.
Propomos a arborização de praças relvadas ou desprovidas de qualquer vegetação, a preservação das árvores existentes nos logradouros e que, nas ruas, um em cada três lugares de estacionamento automóvel (ou o equivalente em ruas sem estacionamento) seja reservado para a plantação de árvores e espécies arbustivas e para a instalação de mobiliário urbano (mesas, bancos, cadeiras…) que convide a desfrutar e conviver no espaço público.
É certo que esta medida não poderá ser feita de forma desregrada e deverá ter em conta as espécies mais adequadas a cada rua e o seu impacto na dispersão de poluentes e arejamento da área. Mas já existem diversos estudos a nível nacional sobre as espécies mais adequadas a cada contexto, além de um imenso capital humano disposto a ajudar nesta análise e nestas escolhas, seja ao nível das associações ambientalistas, das universidades e dos movimentos de cidadãos.
O progresso não se faz só de mais aço, betão e vidro. No século XXI, modernidade significa mais qualidade de vida, mais verde, mais árvores.
20 de julho de 2022
MEL – Movimento Espaços Livres
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